O hábito é algo que fazemos de forma frequente ou rotineira.
Do ponto de vista do cérebro é uma maneira dele se tornar mais eficiente e poupar energia. Ao entender que fazemos, pensamos ou sentimos continuamente uma determinada coisa, o cérebro para de atuar integralmente no processo de tomada de decisão e passa a trabalhar em uma espécie de automático.
Essa otimização pode ser boa em alguns casos, mas não em todos.
Nos ajuda quando não precisamos colocar esforço para encontrar aquele restaurante que sempre vamos ou quando escovamos os dentes. Mas nos atrapalha profundamente quando usa esse sistema de reação também em nossos mãos hábitos. Procrastinação, reclamação, ou maledicência, por exemplo.
Ao desenvolvermos hábitos, aumentamos nossa tendência de se comportar de determinada maneira, principalmente quando estamos distraídos ou sob pressão.
Acontece uma coisa bem interessante no cérebro quando repetimos, repetimos e repetimos um comportamento. Ou seja, quando aprendemos algo. Imagine que nosso cérebro é um terreno vasto, ainda não trilhado, sem estradas. Um campo verdejante, intocado. À medida, que experenciamos algo, nosso cérebro faz sinapses para decodificar essa informação e realidade, ou seja, liga dois ou mais pontos neurais, criando uma conexão. Essa conexão torna-se uma espécie de via. Quanto mais repetimos um caminho neural pré-existente mais pavimentamos essa via. A mielinização vai, então, atualizando as conexões do cérebro fazendo com que a gente perca flexibilidade para trilhar novos caminhos, mas ganhe força e velocidade nas pré-existentes.
Nesse sentido, os hábitos são uma espécie de avenidas, que nos levam de um ponto ao outro de nossa cidade neural de forma mais rápida do que se fôssemos por vias secundárias, mas, por outro lado, reduzem a nossa flexibilidade em retornar e observar novas paisagens.
Estar no piloto automático nem sempre é bom. Muitas vezes, nos traz mais limitações do que eficiência. Como nosso cérebro só tem informação conhecida, que nós mesmos colocamos para dentro, de forma consciente ou inconsciente, deixá-lo assim, atuando no autômato, aumenta as chances de vermos, pensarmos, sentirmos e agirmos sempre com a sensação de “mais do mesmo”. Não é à toa, que às vezes, você se sinta assim, entediado, como se os dias se sobrepusessem sem grandes novidades.
Pois é, pegar sempre as mesmas estradas dá nisso. Em Julho, viajei para a França com minha filha. Andamos quase 3000 mil quilômetros de carro. No GPS, em poucos momentos optei por pegar as autoestradas. Queríamos ver os rincões, as pequenas comunas, casas, plantações e paisagens diferentes. Não tínhamos pressa, estávamos ávidas pelo novo.
A neuroplasticidade nos diz que é possível mudar os hábitos, criar novos e refazer as conexões para uma vida mais gratificante, mais que para isso é preciso disciplina e atenção. Atenção para não pegar a avenida novamente e disciplina para desejar buscar novas rotas e alternativas, mesmo que isso leve um pouco mais de tempo no início. Nosso cérebro não tem indicador moral e seu único propósito é a eficiência. Quanto mais fizermos algo, melhor nos tornaremos nisso, seja em optar por sentir mais alegria ou raiva ou pensar frequentemente que não há saída ou que há sempre uma solução.
A meditação pode nos ajudar nessa reorganização de hábitos e padrões de muitas formas. Ao nos manter presentes, nos obriga a ficar atentos ao agora e a não pensar, sentir e viver no automático. Ao nos manter equilibrados, reduz a possibilidade de reação. Ao nos silenciar, permite que escutemos o desejo por novos caminhos. Ao favorecer nosso controle mental, amplia nossa disciplina e força para transformarmos os padrões e hábitos que desejarmos.
Prestes a chegarmos em 2019, vale uma reflexão: que hábitos você quer deixar para lá? Quais são aqueles que você quer incorporar?
Não precisa deixar para amanhã, é possível começar hoje.
Já te ocorreu que a ideia de deixar mais para frente, pode ser uma dessas autovias que você tem dentro de você que silenciosamente te faz sentir e pensar que ainda não chegou o momento ou que você ainda não está pronto?
Claro que está! Já nascemos prontos, só às vezes, nos esquecemos disso. Simbora realizar!