Mulher Maravilha dirigindo carro

Afinal, você é empoderada?

Ana Paula Borges
anapaula@getflowmind.com

Ao abrir a porta de casa, vi os três atentos olhando para a TV. Quando o Juba me viu entrando, foi logo falando: a minha mãe é empoderada! Eu?? Por quê? perguntei depois de um dia bem cheio de trabalho. Por que você é chefe, disse ele. A Mari riu e falou meio brincando: mãe, olha a sua roupa! (naquele dia eu estava mais arrumada do que de costume). E a Bia completou: e você ainda resolve tuuuudo, tia! Eu? Ai, meu Deus! Que imagem estão fazendo de mim, pensei 😉

Deixei a bolsa na cadeira e fingi que entrava de novo em casa: Boa noite, amores! Como passaram o dia? E sem que nenhuma resposta viesse à minha nova abordagem, o Juba ainda completou: e, às vezes, você ainda é brava, né, mãe!

Diante de tamanho enquadramento eu dei uma gargalhada e falei: pessoal, da onde vocês tiraram isso? Vocês estão definindo quem é ou não empoderado mais pelo fato de como a pessoa age ou tem, do que pela forma que ela pensa ou sente. Da onde vocês tiraram isso? Eles se entreolharem, riram e fizeram uma cara de como quem diz: ai, lá vem minha mãe querer falar de meditação e coisa e tal. Percebendo que esse rumo de conversa não iria agradá-los naquele momento, eu deixei para lá e sentei-me para assistir o tal programa junto com eles.

Uns dias se passaram e o assunto voltava frequentemente à minha cabeça.

Para a maioria de nós, empoderamento vem da ideia de poder e como a discussão do feminino está muito em voga, do poder da mulher. Os estereótipos construídos por todos os lados, costumam delinear a mulher empoderada como forte, determinada, bem sucedida, confiante de si, que se posiciona claramente sem medo, firme, que não leva desaforo para a casa e mais um monte de penduricalhos associados.

Talvez, se fizéssemos um teste e recortássemos imagens de algumas dezenas de mulheres conhecidas e desconhecidas e perguntássemos para as pessoas a cada imagem apresentada se aquela mulher era empoderada ou não, imagino que a maioria das pessoas conseguissem responder a essa pergunta, apenas olhando para a foto.

Se essa minha hipótese estiver certa, provavelmente, tem muita desimformação por aí.

O poder que muitos de nós costumamos pleitear e desejar tem sido construído ao longo dos anos em bases muito frágeis e equivocadas. Frágeis porque não se sustentam a longo prazo, nem para o outro e, principalmente, para si. E equivocadas pois partem de um conceito ultrapassado de força e de poder.

Além disso, parece que um poder que precisa ser frequentemente mostrado e sustentado, é passível de desconfiança, né?!

De fato, entendemos muito pouco sobre esses conceito e normalmente temos uma visão bastante distorcida do que é.

E por causa dessa falta de entendimento, frequentemente oscilamos entre as posições opostas e pouco equilibradas de muito poder ou falta de poder. Por vezes, nos sentimentos superiores e orgulhosos. Por vezes, nos sentimos inferiores e vitimizados. Em alguns momentos, totalmente yang e em outros, muito yin. Muito ativos e determinados ou muito passivos e desanimados.

Muitos ainda creem em um poder de fora para dentro. Um poder que precisa ser validado frequentemente por um conjunto de comportamentos, de formas de se expressar, de se posicionar, de se colocar nas discussões, nos assuntos, na política, no trabalho, com o marido, com a vida. Nossa!! Isso tem cheiro de peso, muito peso! Isso tem cheiro de briga e brigar o tempo todo, cansa. Isso tem cheiro de disputa, de ganhar e de perder, de estar por cima ou por baixo, de “mandar bem” ou “mandar mal”. Caramba!!!! Isso tem cheiro, de estarmos sempre em posição de ataque ou defesa.

Esse texto não tem nenhuma intenção de polemizar sobre as discussões sobre gênero e o quanto nós mulheres já sofremos um bocado por essa ideia distorcida do que é poder. Mas sim, de refletir sobre o que de fato é esse tal poder que tanto falam?

Eu ainda não me sinto empoderada como gostaria. Em mim, ainda tem medo, dúvida, necessidade de me auto afirmar e de ser querida. Mas, também, cada vez mais, tem menos disso tudo.

O empoderamento (já que estamos usando essa palavra…) que eu acredito tem muito pouco a ver com a necessidade de se colocar para o mundo. Ou seja, de se colocar do lado de fora. Na verdade, tem muito pouco a ver com o outro. Ainda bem! Pois qualquer coisa que esteja relacionada a necessidade de se colocar ou se posicionar o tempo todo, cansa, cansa muito. Aliás,qualquer coisa que esteja relacionada a esforço me parece mais com cara de medo, do que de poder.

Parece que o poder que a gente tanto busca e deseja está mesmo dentro da gente. E isso não é papo para boi dormir. E nem, mimimi. Ninguém precisa reconhecer, entender ou acreditar no nosso poder ou em quanto somos isso ou aquilo. A única pessoa que a gente tem que convencer que a gente pode, somos nós mesmos.

O entendimento de que a gente escolhe o tempo todo e é 100% responsável por essa escolhas é que nos torna verdadeiramente empoderados, cheios de nosso poder pessoal.

Se entendermos isso, cada vez mais, reduziremos nossa necessidade de defender ou atacar, de parecer isso ou aquilo, de se explicar, de convencer… pois no final das contas, o lance é entre a gente e a gente mesmo. Se a gente gostar de um aspecto nosso, a gente fica bem. Se a gente não gostar e quiser mudar, a gente sabe que pode. Se a gente não gostar de algum aspecto do outro, pode aceitar, mudar, ficar perto ou sair de perto. Se o outro não entendeu e a gente quiser explicar, a gente pode, mas também se não quiser explicar nada, também pode. Se a gente gostar do outro e o outro não gostar da gente, pode. Se nem todo mundo me achar legal, pode. Se eu não quiser fazer, pode. Se eu quiser fazer, pode também. Posso tudo, mas não tenho que necessariamente nada, já dizia minha querida professora Vera.

Eu não tive oportunidade de dizer às crianças naquela quinta feira o que eu entendo como uma pessoa empoderada, até mesmo, porque esse entendimento ainda está em construção aqui dentro. Mas tem coisas que eu já sei, umas mais claramente do que outras, e que faço questão de exercitar e me lembrar todo dia:

  • Sou único, com minhas dificuldades e potenciais;
  • Sou imperfeito, mas sei que se quiser posso me transformar e melhorar;
  • Sou amoroso, pois não há nada que preciso defender aqui,
  • Sou solto e tranquilo, pois sigo guiado pela minha própria energia;
  • Sou verdadeiro, pois é assim que dá menos trabalho de se viver;
  • Sou simples, pois as coisas são como são e está tudo certo;
  • Sou respeitoso, pois respeito você e a mim;
  • Estou na minha base, pois é aqui que está a minha força e equilíbrio;
  • Sou consciente, pois sei que sou totalmente responsável por meu universo particular;
  • Sou confiante, pois sei que estou sempre protegido;
  • Sou alegre, pois estou aqui e agora;
  • Sou poderoso, pois posso escolher;
  • Sou livre.
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Ana Paula Borges

Executiva com mais de 25 anos de experiência em gestão e liderança. PhD em Administração pela FGV, Instrutora Senior de Meditação pelo IRB, Pesquisadora nas áreas de Neurociência e Mecânica Quântica. Fundadora da FlowMind – Mente Feliz, em Paz e Criativa no Agora. Palestrante, Mentora e Professora.

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