Não é possível se comprometer com tudo. O tempo e o espaço não são elásticos e por mais que achemos que dê para colocar muitas coisas ali, não dá. É bem provável que elas fiquem amarfanhadas, sobrepostas e amarratodas em uma espécie de estante da rotina com muitos nichos e pouca profundidade.
Hoje, cada vez sinto que sou, mais o que deixo de falar, fazer ou sentir, do que as coisas que me preenchia. Me reconheço e me constituo mais nos nãos cirúrgicos que digo, do que nos sim irresponsáveis que dizia. Não tem sido fácil para mim me ser-tornar assim. Logo para mim, a sra-sim. Sim para quase tudo e quase todos.
Esse ano faço 45 anos. Metade da vida. Se tudo correr dentro da normalidade, talvez, um pouco mais ou menos. Entretanto, tenho cada vez menos pressa, apesar de ter cada vez menos tempo aqui. É curioso, mas cada vez tenho menos vontade de ir a muitos lugares ou de fazer muitas coisas. Às vezes, me sinto enjoada e entulhada, de tanta, tanta coisa que já coloquei aqui para dentro. Livros, lugares, comida, tarefas, pessoas, mais tarefas e coisas e coisas e coisas.
Basta, tenho dito para mim. Tenho procurado me comprometer com menos coisa, àquelas que fazem verdadeiramente sentido para mim. Espero que a cada ano, isso se refine ainda mais. Poucas coisas, de muito valor.
Um dia tive um aula sobre comprometimento com meu amado professor de meditação, Sérgio Linhares. Ele nos disse mais ou menos assim…..As pessoas têm dificuldade de se compromter, pois se fixam apenas no fazer. Vou fazer isso, vou começar aquilo e por um tempo até fazem, mas muitas vezes, não conseguem sustentá-las. Por que? O que será que acontece?
Para nos comprometermos, continuou ele, é importante que estejamos alinhados também no pensamento e sentimento daquela direção. Caso contrário, a ação rateia, é frágil, inconstante e facilmente mutável.
Eu já disse algumas vezes que começaria a fazer academia, mas nunca consegui dar a continuidade que gostaria nos últimos anos. Por mais que saiba intelectualmente que é uma decisão acertada, quando me vejo saindo do trabalho e me imagino entrando na academia, sinto desconforto. Não era para ali que gostaria de ir. Sinto que preferiria ir para casa, para ficar mais tempo com a Mari e o Juba. Isso me deixaria mais feliz. E por haver esse elo débil na minha intenção, um sentimento gritando para outra direção, a ação não se concretizava com a retidão e facilidade que poderia. Hoje, aceito isso e não brigo mais. Faço 10 minutos de exercício em casa e está bom. É isso que posso me comprometer agora.
Tenho procurado a cada sim importante que digo, avaliar se posso verdadeiramente me comprometer em pensamento e sentimento naquela direçâo. Procuro fazer isso para não ficar gastando tempo e energia por aí e, principalmente, para me dar o devido respeito e atenção que mereço.
Se comprometer, quando estamos verdadeiramente alinhados em uma direçâo é mais simples, leve e prazeroso. Mesmo que as dificuldades apareçam, a bússola do sentido e do propósito já reconhecidos, vai iluminando o caminho e nos ajudando a encontrar soluções.
E você, com o quê verdadeiramente tem estado comprometido?
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